segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 

Cebola, sempre...

 

… e eterna será a serra, sua mãe, que com orgulho sustenta o seu famoso picoto, o picoto de Cebola, e ampara ainda a minorca Serra do Açor, cujo ditame da construção intemporal cósmica colou a si, qual lapa de falésia, a que depois alguém, capciosamente, subvertendo os valores e a História, lhe agregou uma mais alta, a nossa, que abocanhou como ave de rapina e açorou-a  com promoção conveniente, servindo-se para o conseguir de inusitado, descabido, insultuoso e despropositado  apagão do nome  Cebola, causado a pedido de alguns envergonhados das suas raízes, que, sem senso nem consenso, miseravelmente traíram, desprezando a memória coletiva, os próprios «egrégios avós» e seus valores ancestrais. Esqueceram que o nome de um povo é a sua essência, a sua alma e personalidade, a sua identidade e energia; o coração e orgulho que lhe dão unidade e coragem, pelo que não pode eliminar-se de ânimo leve, só porque um dia alguém de castrado caráter e timidez associada se envergonhou … Como foi possível?  

Escorados no convencimento de que sabiam alguma coisa que os colocava acima dos outros conterrâneos, facilmente os manipularam e conseguiram os seus intentos. Hoje está, no entanto, provado que não passavam de subalternos intelectuais – do que eles, aliás, não tinham a mais leve suspeita! A despeito disso, a Serra não entrou nesse pacote, felizmente. Todavia há quem pense o contrário. Mas, se nada ficou escrito acerca da alteração do nome da serra, se não há prova, oficial ou outra, de que o seu nome tenha sido também extinto, logo será abuso de confiança varrê-la arbitrariamente do mapa.

Mas a culpa maior será do desinteresse das entidades administrativas do Concelho que tendo a sua Estrela, a maior, se estão marimbando para terras e serras menores, olvidando e não vindo a terreiro defender o carismático nome da serra de Cebola (ou «serram de Zebola» e «serram de Sebola», como se dizia no tempo dos reis Afonsos e Sanchos) e promover aquilo que lhe pertence e está historicamente lavrado nos cânones militares e administrativos nacionais e internacionais. Devo realçar um pormenor que dá conta da antiguidade da povoação. Como se vê já está escrita com maiúscula no século XII - Sebola e Zebola. Ora, não há dúvida que se referem à povoação e, a ser verdade, Cebola se calhar é mais antiga que Afonso Henriques. Estou convencido que sim, não me custa admiti-lo.

Era Serra de Cebola, era picoto de Cebola que lhe chamavam os habitantes de então, depois também os nossos reis, toda a nobreza, clero e o povo, pobres e nobres, caçadores e pastores. Imitem o procedimento do concelho vizinho, que não contente com a pequenez da sua colina, com calculado oportunismo, espúria e bastarda ação absorveu a serra e picoto mais alto, hoje secundado pela cumplicidade de alguns renegados seguidistas dos quais sobressai a teimosia desvalida de um moicano, pear tree fred, herdeiro dos subalternos intelectuais de há mais de sessenta anos, um cabotino que deveria mudar-se para a Fórnea ou Covanca e levar a sua querida ave de rapina mais o patrono da jarreteira, dos jarretas, se, por acaso, lá, não lhe impedirem a entrada.

Do mesmo modo, a sede do distrito, que mais virada está para as lezírias e planícies ribatejanas, montes e planuras alentejanas, assobia para o lado e deixa subverter e mesmo riscar da cartografia militar, principalmente da geodesia cósmica, a Serra de Cebola, que é - sempre foi - a maior e mais importante deste lado dos Montes Hermínios.

A este propósito, refira-se que já houve outros que nos sonegaram o lendário Viriato e seus guerreiros lusitanos que aqui lutaram, venceram e enxotaram, lá para as terras de augustos, neros e césares, os   soldados, geólogos e pesquisadores de ouro romanos.

Passou a haver, ou sempre terá havido, regionalistas bacocos, fanáticos chauvinistas caseiros interessados em tomar para si, para a sua terra ou região, não só as serras mais altas, mas também a figura e os feitos do grande chefe Viriato sem saberem ao certo onde aconteceram, confirmando, outrossim, que a subjetividade capou a verdade…

– “Ai é dos montes hermínios? Então é nosso” - disseram, sem provas provadas, aqueles das «choupanas» lá de cima de outro concelho;

 - «Ai é dos montes hermínios»? - Perguntaram-se nuestros hermanos da serra morena, do Ebro ao Guadalquivir e outras terras espanholas - «Então é daqui».

No entanto, fazendo fé no que já foi escrito e publicado por estudiosos da história antiga, Viriato e os seus guerreiros lusitanos viveram e lutaram aqui, onde hoje é Cebola e a Serra de Cebola. Assim, assertamos nós, com tanta legitimidade e talvez com maior propriedade que a de qualquer chico-esperto que fala do que não sabe:

«Viriato foi um chefe guerreiro lusitano que viveu e lutou nos Montes Hermínios, ou seja, na Serra de Cebola».

 Estou certo? Todos temos razão? Teremos! Ou ninguém tem?…

Viriato nasceu 180 anos ac. Na Roma desse tempo, escreveu-se e falou-se muito dele. Não sabiam ao certo se se era um pastor, caçador, se algum príncipe, mas era ponto certo que se tratava de um grande chefe, um exímio guerreiro e homem de honra.  Conta a lenda – se não conta conto eu – que esse homem, como grande estratego, percorreu muitos lugares, muitas serras e muitas terras, para despistar o inimigo. Terá tido demorada paragem onde hoje é a eira das casas e pastoreado o seu gado nos lameiros da quebrada. Fazia, em tempo de paz, longas sestas em repouso à sombra do grande seixo. O seixo dos cabecinhos ou dos lameiros, que, creio, foi destruído para passar a estrada. Numa tarde, aproveitando o seu sono reparador, foi aí mesmo assassinado por um traidor de confiança que se deixou aliciar pelos romanos. No mesmo local foi enterrado, chorado e venerado pelos seus combatentes, pastores e povo em geral. Mais tarde, os visitantes viram aí, assombrados, o talo já alto e florido de uma Cebola que os saudava e cuja flor sorria para eles. A partir desse dia, quando alguém se referia ao lugar, dizia: «Vamos visitar o Cebola», ou simplesmente: «Vamos ver a Cebola onde está sepultado o nosso herói». E assim nasceu o nome de Cebola, hoje proscrito.

Entretanto, o Picoto de Cebola, sempre magnânimo e pronto a perdoar, alheio ao embuste, olha lá de cima, reparando como realmente é bela e encantadora aquela colina que há milhares de anos, talvez milhões, se encosta a si como que a pedir proteção e amor.

Mira então, embevecido, aquelas pitorescas aldeias e lugarejos xistoides do Piódão, Covanca, Fórnea, Malhada Chã…  Embora com pesar, mas com peculiar simpatia e benevolência, vê uma ave de rapina que voa entre s. pedro e o colcurinho - é o seu campo, é o seu terreno -, comove-se e murmura: ó colina linda, contenta-te com o teu açor, não me faças mais cócegas e cresce e  aparece.

Constantino Braz Figueiredo

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Será, pois, altura de apresentar um documento que «pesquei» no Google - como costumo - bastante elucidativo e sem margem para dúvidas: 

«5 – Serra de Cebola -  1418 m

Situada na cordilheira da Serra do Açor tem o seu ponto mais alto o Pico da Cebola ou Picoto da Cebola com 1418 metros. Muitas vezes este picoto é dado erradamente como o ponto mais alto da Serra do Açor. Esta definição está errada.

O Picoto da Cebola fica localizado na Serra da Cebola junto da Serra do Açor. Por fazer parte da cordilheira do Açor, habitualmente incluem-na como fazendo parte desta Serra, mas essa informação não está totalmente correcta. A carta militar nº 244 do Centro de Informação Geoespacial do Exército que nos serviu de base tipográfica, demonstra inequivocamente esta situação.

Tem no alto dos picos vizinhos vários aerogeradores de alta tensão e um bolembreano de 3.ª Ordem.»

Ponto com maior elevação: Picoto da Cebola

Coordenadas: 40.181710, -7.809086

Carta Militar n.º 244

Tipo de Vértice Geodésico: Bolembreano de 3ª Ordem. http://aeiou.expresso.pt/novos-sítios-descobertos-nas-serras-de-cebola-e-do-açor=f476868#ixzz1odMCe1tQ

História 

(trecho copiado da google)

«.... refere que a jusante do Cabeço do Gondufo, próximo da antiga Catraia das Aguaceiras, desfila a serra de Cebola, hoje conhecida pela "Serra do Picoto", onde se teria dado a grande batalha das tropas romanas, comandadas pelo "General Gondufo", com Viriato e a sua cavalaria onde este saiu vencedor, com a derrota dos soldados romanos».

 50º aniversário da extinção do nome Cebola:

  "Hoje temos vergonha de CEBOLA?. Claro que não. CEBOLA sempre e para sempre" - São as palavras que terminam a notícia do corajoso Sérgio, aquando do acontecimento em apreço.  - Cebola.net  

 

Referências à Serra de Cebola. Nos inícios do Século XVI (1503/1507) aquando da vinda dos frades à região para verificação do estado dos bens da Comenda e no relatório que fizeram refere-se:

"(…) e leva hà lomba sempre afundo atee hás portas da muda e de hi se vay direito aa cabeça de cebolla e de hi vay sempre pella lomba a fundo atee há portela do sueiro que he ao ponente e de hi se vai por cima da Ribeira das aradas direito aa cabeça cambam e leva há lomba dos cambões honde vay teer toda afundo antre ho bodelham e hos cambooes e de hi se vay direto aa pedra dos andoriscos que he dentro no zezer e vaisse pelo zezer acima atee há foz do ourondo onde começou e isto he ao sul.



Repare-se que já em 1207 Cebola  (e isto merece atenção)  se escrevia com maiúscula (Zebola ou serram de Zebola e serram de Sebola), donde se infere que Cebola seria já um povoado.

                                       (...)

Mais referências à Serra de Cebola. 

Nos inícios do século XVI (1503/1507), aquando da vinda dos frades à região para verificação do estado dos bens da Comenda e no relatório que fizeram refere-se:

Notificetur tam presentibus quam futuris quod ego Sueiru Fromariguiz divino spiraculo erudictus ideo in mea bona salute et nullo me cogente sed spontanea mea voluntate do et concedo ad Mansionem Templi ipsam meam populationem que dicitur (21v) Casegas que est in termino coviliane do eam populatam et inpopulatam ruptam et inruptam per omnes terminos sicut currit aurondo de ipso rivulo quomodo vertit aquas ad Ozezar deinde sicut dividit cum Aerada et etiam sicut tendit ad serram de Zebola usque ad sumum. Do ibi eam pro anima mea atque remissionem peccatorum meorum et pro bono quod michi semper fratres eiusdem mansionis fecerint et ut me in suis beneficiis recipiant igitur ex hac die mansio templi habeat ipsam supranominatam populationem cum omnibus suis terminis sicut superius sunt ostensi e cum omnibus suis directis et si aliquis venerit tam de meis quam de extraneis vel ego venero aut filii mei venerint qui hoc donum et hanc cartam violare voluerint sint maledicti usque in septimam generationem et cum diabolo pereant usque in sempiternum. Insuper quamtum inquisierit tamtum ad mansionem templi in duplum componat et quantum fueirit melioratum et iudicatum et pro sola temptatione pectet centum morabitinos. Insuper hoc donum et hec manda stet firmiter in perpetuum.

Facta he carta mense augusti era Mª ccª X (L)ª Vª, Ego supranominatus qui hanc cartam fieri iussi coram bonis hominibus eam propriis meis manibus roboravi et confirmavi.

 Constantino Braz Figueiredo


 

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