ambos os dois ou o saco e a baraça
Volátil! Ansiosa! Sorridente… É a mensageira do futuro!
Uma rainha!
A imperatriz do pensamento e
do espaço infinito.
Com a
velocidade do relâmpago, desloca-se fluidamente por todos os lugares
disponíveis e indisponíveis. Desdenha, qual divindade, de quaisquer obstáculos
que lhe interponham. Pelo cumprimento e aplicação da justiça, da lógica e da
inteligência, da pertinácia, trabalho e sedução, desbrava lugares e povos
inconcebíveis, ignorados ou desconhecidos; altiva, curiosa e perspicaz invade
os fechados e quase impenetráveis domínios senhoriais e acomoda-se em seus
majestosos palácios, com atrevimento e a rir da mais disciplinada segurança.
Senta-se
à mesa de reis e usufrui com os anfitriões e insignes convidados de luxuosos
aposentos, benesses, iguarias, diversões sociais, caçadas, bailes, regabofes,
bacanais e toda a espécie de voluptuosas orgias vulgarmente atribuídas a tais
lugares.
Do mesmo
modo, entra em miserável, imundo e promíscuo antro de desviados, social e
levianamente considerados a escória, o rebotalho. Mas aqui – alto lá! – é um
campo onde pouco se detém, seja porque não gosta da deprimência, seja por imperativos
relacionados com a sua habitual inconstância e irreverência mais propensos e
vocacionados para a bem-aventurança ou para quem procura alcançá-la.
É a sua natureza!
Não tem problemas de
consciência, é inculpável, mas fica terrivelmente perturbada e desconfortável
com quem mantém ou dá fôlego à indigência e aos desvalidos, aos marginais e a
toda a cáfila de parasitas que se move em torno de quem trabalha e honestamente
faz pela vida. A Sociedade que os produziu, os políticos, os governantes de
todos os países do planeta, numa atitude corajosa, uniforme e concertada,
que faça algo a montante e a longo prazo para que o mal seja cerceado, em vez
de financiar estéreis conflitos só para mostrar quem tem o poder e as armas
mais destruidoras, e, principalmente, para submeter os outros povos à
subserviência económica.
Com esse propósito,
preconiza ações convergentes para total erradicação da pobreza que nunca será
suprida nem minorada (apenas alimentada) com as habituais mezinhas caridosas,
esporádicas ou pontuais, aparente ou realmente simpáticas, mas não isentas de
beatífica hipocrisia, quantas vezes para justificar profissões bem remuneradas.
Um dia far-se-á a conta ao influxo financeiro absorvido pelos agentes do bem em
detrimento dos infelizes destinatários.
Sabe como agir, mas
considera que é uma área que não lhe pertence porque seriam necessários grandes
investimentos, e além de muita dureza, alguma crueldade politicamente incorreta… muitas
linhas e anzóis, e a recuperação de forjas, ferreiros e ferradores para dar
cabal cobertura ao reflorescimento das atividades necessitadas de pás, enxadas,
ancinhos, roçadeiras, picaretas e… ferraduras…
Mas não ficaria,
porém, escandalizada com a substituição daquelas históricas e eficazes
ferramentas, de romântica saudade, por tecnologia de ponta, consubstanciada em
segadeiras, debulhadoras, tratores, pás mecânicas, assim como exaustiva
implementação de oficinas e laboratórios de investigação, com mestres de
reconhecido e elevado gabarito em todos os ramos da ciência, equipados de
aparelhagem moderna, e técnicos informáticos, bem armados de magalhães, gamas, colombos e outros cabrais.
Versátil, temperamental, impulsiva.
Se o deseja veste um cariz vulgar, comum, civilizado, alegre ou sentimental, mas sempre prático e objetivo, e sem perder tempo à espera de permissão invade os mais íntimos e secretos esconderijos da sua paixão. Sensual, dispõe à vontade e sacia-se dos comuns desejos com a cupidez dos que em silêncio sofrem e amam, porque, imbuída do espírito destemido que lhe é peculiar, vai, ela própria, ao lugar do endereço da carta da popular trova que compôs e que nunca lhe mereceu enviar.
Incansável. Subtil. Inteligente. Sedutora. Fatal!
Mas é, mais que tudo,
razão.
É ela que, através do
seu imensurável poder criativo, faz evoluir todo o universo do conhecimento. Imparável
e avassaladora, acolhe e acode a todos os ramos das ciências e das
artes. Quase de graça, trabalha incansavelmente para tornar os povos
mais prósperos e desenvolve e tira partido de todos os recursos da natureza
para melhorar o progresso, o nível de vida, a saúde, a longevidade.
Em alguns casos parece
carente, vaidosa, ciumenta, insaciável, e então pode tornar-se perigosa com as
suas prodigiosas invenções, contanto que sejam levadas para sendas tortuosas e
postas à disposição de déspotas de ambição desmedida ou escroques do mais baixo
jaez.
Ela é a Imaginação, a sabedoria, mas não seria de todo feliz se não fosse complementada com o apêndice de todas as horas, de toda a vida, desde o nadir ao apogeu sideral da humanidade – o Sonho!
Mas,
Sonhar…
…O sonho, embora
indevida e vulgarmente confundido com a imaginação, é totalmente diferente
desta. Pode, no entanto, com algum esforço, dizer-se que é a
consciência, a moderação, um freio à conduta por vezes atrabiliária da sua
fogosa companheira.
A imaginação é
criação, esforço, aventura, realização; o sonho é fantasia, devaneio,
aspiração, utopia, ilusão – almeja sem construir, deseja sem realizar. Ele é contemplativo,
idealista, romântico, lírico e ingénuo; ela é a vontade perseverante, o projeto,
a obra. Ele é visionário, indolente, passivo e subjetivo; ela é direta,
pragmática, arquiteta e objetiva. Mas um não viverá sem o outro. São inerentes
e estão ligados pela essência e intrinsecamente associados em simbiose perfeita
e… eterna
Para nosso bem,
felizmente, todos nós, de per si, estamos equipados com essa
prodigiosa ambivalência. Aproveitemo-la então e utilizemo-la da melhor maneira
e gozemo-la generosa e abundantemente. Sonhemos e imaginemos até fartar, mas, sobretudo, doseando o esforço, vinquemos o nosso inabalável querer, a nossa esperança e… pensemos
positivo!...
Constantino Braz
Figueiredo
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