sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cebola nossa

A propósito de um infeliz post publicado em 25/11/2010, no Cebola.Net por um tal 7-8-9, soma 24, e por que não me é permitido ler comentários que porventura esse post tivesse merecido, sequer como arrogado cebolense de plenitude ter direito ao contraditório no referido Site, sirvo-me do meu cantinho para tecer alguns considerandos.

Assim,

1. O sr. 7-8-9 começa por dizer que se debruça sobre o assunto como quem se julga muito alto. Muito acima do assunto e dos que, coitados, se atrevem a estas veleidades. Não estará… embora saiba quem era, não sei quem é, mas, por mais que tenha subido desde então, nunca terá trepado às nobres alturas do Cebola. A humildade nunca nos estraga a vida…

2. Depois diz que sendo o correspondente do NC sabe do que fala porque na notícia que enviou àquele jornal dizia que foi a Junta de Freguesia que fez o pedido por “exigência” da generalidade dos cebolenses. E eu afirmo: foi de facto um grupo restrito! Foram os intelectualóides que venho apontando em vários escritos já publicados quem facilmente manipulou a Junta e lhes escreveu o pedido/exposição, já que, eles, os intelectualóides, eram os únicos que tinham alguns estudos. Daí que lhes fosse fácil manobrar, dominar e fabricar as opiniões, e mais fácil convencer a Junta, que não primava por grandes conhecimentos literários e administrativos (por vezes o Presidente até era analfabeto).

3. O nome s. Jorge da Beira foi consensual? Jamais o saberemos porque nunca, e disso tenho a certeza, foi perguntado ao povo. Como poderia ter ido outra proposta de ”nome para cima da mesa” se não houve mesa? Se não houve qualquer reunião magna? Se o povo nunca foi convidado a exprimir-se por votos, por aclamação ou de outro modo? O consenso foi apenas dos ditos senhores que prepararam a tramoia e de mais ninguém. Estávamos numa época em que às mulheres nem sequer era concedido o direito de voto para o que quer que fosse e os homens foram simplesmente desprezados…

4. Quanto às razões invocadas e aduzidas na exposição/pedido – afinal o motivo único desta burrice –, não passam de balelas que farão rir o maior circunspecto. Com efeito, tanta gente que andou por fora mas que, tendo orgulho na sua terra, sempre se marimbou para o que alguns mentecaptos pudessem dizer ou sorrir do nome Cebola. Aliás, mesmo cá em Portugal há centenas de nomes de povoações que têm nomes mais bizarros, mas cujos naturais, pela dignidade e amor à sua terra, jamais trocariam por outro.

5. Ao invés, faz realmente sentido a vergonha por que passava quem não tinha personalidade para sustentar uma brincadeira, afinal inócua. Esses tais senhores deveriam era dar graças ao seu padroeiro por serem de Cebola e os chamarem cebolas, senão chamar-lhes-iam abóboras!

6. Não sei, mas estranho que diga que “na altura – 1960 – frequentava o liceu da Covilhã”. Bom, o 7-8-9 (soma 24) nessa data tinha 27 anos. No liceu? Ninguém se admire por falar de abóboras…

7. Aqui e além, em escritos no meu blog e no Site de Cebola, tenho falado sobre esta matéria. Seguem-se alguns trechos de maior acuidade para melhor ilustrar as minhas opiniões.

Em “As fímbrias do Império”

(…) arrancado à nossa querida e incomparável Cebola – até se me parte o coração por a terem alcunhado com nome de um intrometido que lá não nasceu, nunca lá viveu e nem lá parentes teve… À serra não lhes foi permitido, e nem agora nem nunca o será, quer porque lá dorme eternamente o Cebola, o guardião, a quem a Terra durante séculos agradeceu o nome que seus honrados filhos dignamente e sem desdouro exaltaram pelo mundo, quer porque o nome da serra, que logicamente advém da Terra, tem registo nas organizações militares internacionais, e jamais haverá ilustres capazes de subverter a natureza da impossibilidade. Com orgulho mas sem apreço por quem levianamente lhe sonegou a mãe, responderá sempre, altaneira, por Serra de Cebola, ou Picoto de Cebola. E apenas sentirá saudades, grandes saudades, de ouvir de novo os maviosos andamentos quando o som emitido pelo badalar dos sinos se misturava com a bucólica e ressonante parafernália de guizalhos, chocalhos e campainhas das pachorrentas cabras que diariamente a visitavam, atraídas pelos seus viçosos rebentos da mais variada flora rasteira, onde predominavam tenros carquejais e erva de húmidos e frescos lameiros.(…)

(…) Assim, quando me perguntavam o nome da minha terra, imediatamente respondia com clareza e calculada altivez: Cebola. Era como se dissesse Lisboa, Paris, Londres ou Nova Iorque! Por vezes notava um ligeiro esgar trocista na cara de um ou outro, mas ao verem o orgulho e a dignidade com que pronunciava esse nome, e, em certos casos, o olhar furibundo com que os chispava, o assomo sarcástico logo desaparecia. Valeu-me que os iluminóides lá na terra ainda não tinham atuado (…) E – acreditem – nunca fui alcunhado de Cebola, o que, para mim, até nem seria ofensa! (…)

Em “O seixo e o Site”

(…) Entretanto, o Cebola, que no meu imaginário continuava vivo e que, como disse, se transformara no Seixo da Quebrada, logo por cima dos Cabecinhos, com a nova estrada a passar-lhe agora aos pés (?), em lugar dominador, de privilégio, já alvo pela erosão e pela idade, hoje tapado por moitas, carrascos e pinheiros, como se lhe tivesse crescido a barba e o cabelo, atento, tudo via, e acreditava, com orgulho, porque todos propugnavam para que nada faltasse, que o seu Povo tinha pernas para andar… e andava (…) até que um dia (…) conjurados, apareceram por lá uns pseudo-iluminados, de fraca personalidade, que por vergonha e por lhes faltar caráter, por serem incapazes de sustentar que alguém lá fora onde estudavam ou trabalhavam se risse por serem de uma nobre terra chamada Cebola, tinham tratado e conseguido eliminar o seu nome, esquecendo-se que são as pessoas ou as terras que fazem o nome e não o nome que faz as pessoas ou as terras (eu estava ausente a milhares de quilómetros de distância, mas mesmo que estivesse nada alteraria (…). Acharam que era melhor um nome importado das terras de sua majestade britânica, o patrono da Ordem da Jarreteira, trazido pelo Duque de Lencastre, que teve ainda o desplante de o impor, substituindo o nosso S Tiago, padroeiro de Portugal, por este intruso. Assim, em vez da vitamina C, a riqueza da cebola, ficamos com a vitamina J, de Jarreteira… ou da vitamina L, seu símbolo – uma Liga de jarretas.

Recentemente, o Cebola, como recompensa, foi, também ele, surpreendido pela magia das novas tecnologias, um vento de renovação que, sem complexos e sem pejo ou assombro, com vitamina C e não J, com determinação, alguém, com olhos de ver, graciosamente pôs ao serviço e utilidade do seu povo; e agora, já de novo com o talo ereto e florido, ri e rejubila por ter sido rebatizado de Cebola, o Seixo, perdão, Cebola, o SITE.”

Em “Detrás de serra”

(…) tais que se o intruso e adotado Jorge, um fantasma inglês, aceita por desconhecer e não compreender o intrínseco sentir e caráter sadio deste povo,  dado ser, também ele, um forasteiro, um “homem de fora”, de "detrás de (longinqua) serra",   o Cebola, o legítimo e verdadeiro pai da terra, o pai biológico, jamais aceitaria (…)

Constantino Braz Figueiredo