quarta-feira, 21 de setembro de 2022

 

 

O vermelho versus O verde

 

Foi a descoberta do carmim e ocre vermelho, cuja beleza ofertada pela natureza seduziu as civilizações do período neolítico, que as levou a   produzir a cor encarnada ou vermelha ou carmesim, tanto faz, a qual, depois, as viria a favorecer em múltiplos trabalhos - atividades lúdicas e culturais,  diversões e entretenimentos, e outras de índole criativa como as pinturas rupestres encontradas em grutas e cavernas, depois descodificadas por técnicos de arqueologia e hoje transformadas em locais de explorações económicas, onde são admiradas e celebradas por milhares de visitantes para simples conhecimento ou por grupos de jovens das instituições de ensino  para estudos laboratoriais ou académicos.

Utilizada também nos mais variados e prestigiados ornamentos em móveis e artes funerárias, tumulares ou sepulcrais, que no antanho eram os maiores acontecimentos, revestindo-se de capital importância sentimental e social e celebrados com solenidades e disfarces vermelhos apropriados, dando lugar a rituais de grande pompa e aparato, planeados e preparados com o tempo e os aprestos coloridos a condizer.

 A partir de então manifestou-se grande interesse e admiração pela excêntrica quão sortílega tonalidade que depressa foi adotada como a preferida, pela inquestionável atração e por se acreditar no estimular da energia pessoal, e incentivo à coragem e à paixão.

Com a proliferação natural e primazia na sua escolha logo foi utilizada em ofícios e trabalhos de lazer e aproveitada no bem-estar, conforto espiritual e bem sentir, provocando o charme e a alegria nas festas, eventos e comemorações. Poderosa, era grande aliada nas vitórias em batalhas e pleitos de qualquer cariz e grau de importância, daí a sua conotação com Marte, o planeta vermelho, o deus da guerra. É uma cor quente que pressupõe o sangue, o coração humano e a chama que mantém vivo o desejo e o impulso sexual. Alenta e enobrece a sensualidade nas relações de amor dos apaixonados. Favorece o sistema nervoso e a circulação sanguínea; eleva a autoestima e o orgulho, assim como o espírito de conquista.

É um luxo; é o luxo!

Tapetes e vestimentas ornamentais vermelhas são as mais utilizadas nos grandes eventos da alta burguesia, sejam profanos, pagãos ou religiosos. Reis e imperadores eram – e ainda o são – coroados vestidos e rodeados por decorações têxteis e mobiliárias com a cor vermelha, a rainha da ostentação.

É do conceito popular e geralmente admitido, porque foi assegurado por estudos acreditados, que as reações das pessoas se tornam mais justas, rápidas e clarividentes em ambiente vermelho. Talvez por isso, seja aceite e considerada como a cor da justiça.

É ainda a cor da liberdade e dos movimentos operários, e transversal a quase todas as bandeiras do mundo que representem nações ou organismos da maior à mais pequena amplitude.

Aproveitando a base que servia para o arranjo, composição e aperfeiçoamento de instrumentos para a prática de magias de desenvolvimento intrínseco e de costumes ancestrais nestes povos, ministradas por diabólicas figuras trajando de sacerdotes do além, enviados por Lúcifer com as cores infernais, que consistiam em conceituados fatalistas, convertidos e travestidos de sinistros, temíveis e respeitáveis feiticeiros tribais, para intimidar e afugentar inimigos físicos ou os poderes ocultos e espíritos malignos que, não suportando esta cor berrante e altamente aguerrida, ficavam furiosos, loucos e desesperados. Tanto assim que, ainda hoje, as atávicas e frustradas descendências poderão sentir-se desconfortáveis, mesmo algum pânico só de o mirar, transbordando então o recalcado complexo da sua essência que os assolou de  ódio destilando veneno e, tal como os touros, perdem o tino e controlo, mostrando a natural sanha e ameaçadora ferocidade. (*)

(*) - O escrito e o estilo são totalmente da autoria do subscritor. Algumas informações foram colhidas no Google e adaptadas ao texto.



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E o verde?

O verde é lindo!

O mal foi a sua usurpação, à guisa de exclusividade grotescamente abusiva, cometida pela Sociedade Curraleira de Pedantes, dos valados, para gáudio dos fiéis seguidores e louvor dos seus ilustres alcaceteiros. Não obstante, o verde continua lindo. Certo verde agrada à vista, até a mim, calcule-se… é, pelo menos, o que parece, mas se, como dizem, o inferno é vermelho, o verde, mesmo belo, também nunca será um céu.

Senão vejamos:

Imagine-se o que um velho amigo me contou:

- Vivia para a ver - dizia-me, nostálgico -, sonhava com os beijos daquela linda mulher, que faz tempo me atraía e encantava, com lábios vermelhos, apelativos, carnudos e sensuais. Mas um dia, inopinadamente, surgiu-me com eles perversa e ostensivamente pintados de verde! Que pecado! - Uma cor fria e desencorajante a ultrajar essa beleza... Se calhar produziu-se para impressionar qualquer osga!... Ao ver aquilo fiquei nauseado, triste e desiludido e, sem hesitar, saí de cena. 

Em verdade, reportando o crer  e sentir tradicional de raiz popular, adquirido pelo empírico conhecimento ao longo de milénios, transversal a toda a humanidade, que lhe atribui intrínseca crueldade, veneno e traição, o verde é, também e com total propriedade, tido como comida de vaca e habitat natural de frenéticos e truculentos vermes, estância privilegiada da fidalguia, em solidário convívio com bizarras, pirosas, quão ferozes e viscosas lagartixas, eivadas de pesado sofrimento, e por demais complexadas pela sua baixa condição e assumido estatuto de rastilhantes(?) perpétuas, por não terem, malgrado o seu empenho e bem conhecido esforço, a  sonhada e de há muito prometida metamorfose que as transformaria em elegantes e vistosas jacarés.

Não interessa, pois, desperdiçar tempo em análises minuciosas, escalpelizando debalde a propaganda estéril, pueril ou inócua da cor verde, que, por interesses claros ou inconfessos, é conotada com crenças românticas e airosas esperanças, árdua e habilmente incutidas nos crédulos e ingénuos com promessas nunca cumpridas; não importa que tíbios e híbridos poetas, de pacotilha, pautados na complexa psicose de infindáveis recalcamentos existenciais, que o triste e persistente fado dos perdedores inspira, versem apócrifas ladainhas e fabriquem fantasias para impressionar, chegando a fazer crer no alto poder do verde para abrir o céu, portas e janelas e escancarar voluptuosa e generosamente lindas pernas e sedutoras balizas.

(**) Este pequeno texto, relativo ao verde, foi escrito há algum tempo e tratava, inteiramente, de fictícia e pretensa rábula que tinha por objetivo ridicularizar um guia de sequazes por verdes ervas daninhas. Uma vez expulso o guia ou timoneiro, o escrito perdeu o sentido original, pelo menos todo o conteúdo. Foi então mutilado e adaptado, mantendo o estilo e o propósito de ficção, embora de menor abrangência

(?) rastilhantes - Termo que não consta do dicionário. Foi lido e tomado de JCP in “Balada da Praia dos Cães”, onde figura como qualificativo ou alcunha do lagarto Lizardo, mascote da personagem principal, inspetor-chefe da PJ, Elias, o Covas.

 Constantino Figueiredo

 

 

sábado, 23 de julho de 2022

Violas e Tubas/Flautas e Pandeiretas

 


É velha a história de quatro violas braguesas oriundas dos valados, que se exibiam acompanhadas de poderosa e arrasadora tuba, sendo hoje lembradas e impingidas até à saciedade com a costumada bazófia, transbordando jactâncias tediosas sem limites, quase insultantes. Só tocavam música saloia, género “pimba”, caseira, incipiente, mais parecendo as famosas sonatas da “charanga do compadre”.

Relativamente, nesse tempo, facilmente se impuseram e dominaram, há que dizê-lo; melhores que os concorrentes de cá e de então, é indiscutível, mas só caseiramente, porquanto estes apenas tocavam pandeiretas, ferrinhos, adufes e concertinas. 

Não há registo de feito positivo nos contatos com a estranja, quer em pleitos de seleção quer nas suas pelejas com agremiações argentinas convidadas ou em digressão pela Europa. Em representações internacionais «refastelavam-se» com10 da Inglaterra, da Espanha e, em causa própria, contra os argentinos não houve melhoras. Estes, apenas com os tradicionais e ancestrais instrumentos chiriguanos, taikas, charangos e pilagas, brindaram-nos, em concertos harmoniosos, com inolvidáveis sinfonias de tangos bem ensaiados e sublimes acordes. Tanguearam-nos e mimosearam-nos, aqui, no seu reduto, com sete e oito, reduzindo-os àquilo que é, naturalmente, a sua verdadeira essência:  nadir, zero!

 Que vergonha!

Bem me lembro de um saudoso e conceituado relator comummente conotado com os valados quando, no relato de uma destas contendas com o S. Lourenço de Almagro, gritava com alguma desilusão e tristeza: falta um quarto de hora, os argentinos, já satisfeitos, brincam, tocando a bela música na sua quinta e de lá, entretidos que estão, não lhes apetece sair.

 Que baile! Que gozo!

Alguém se lembra daquele ataque composto por Michael, Ceconato, Lacásio, Grilo e Cruz? Sim, eram eles os charangos, taikas e chiriguanos; não violas e tubas…

Mas, situemo-nos no tempo:

Tinha acabado a II grande guerra. A Europa ainda cheirava a pólvora e quase ainda não se tinham extinguido os ecos de canhões e bombas lançadas a partir de fevereiro de 1945 pelos aliados, USA e Inglaterra, sobre os centros das cidades alemãs e nipónicas, bem no centro para causar maior impacto. Cidades indefesas pelo desenrolar da guerra, sobretudo Hiroxima e Nagasaki, com armas atómicas, e os bombardeamentos a esmo a Dresden, onde já só se encontravam doentes, velhos, mulheres e crianças. Só aqui pereceram pelo menos 25 mil civis, e a cidade ficou completamente arrasada e destruída.

Por cá, embora não tivesse havido bombardeamentos, sofreu-se e sofriam-se ainda os efeitos comuns de proximidade, com os estilhaços sociais e económicos que causaram, por alguns anos, muitos danos ao país e à população, tais como carências de artigos de primeira necessidade, que obrigavam à aquisição de senhas e cupões para, em filas intermináveis, comprar géneros alimentícios, incluindo o pão; racionamentos por decreto e, até, bolhas de manifesta miséria e alguma fome.

Tempos de contrabando 

Tempos de candongueiros

Tempos difíceis.

Foi em espetro de semelhante contexto que a maioria dos participantes opositores foi angariada nos modestos grémios, associações de aldeia ou de freguesia - Casas do Povo e Centros Populares de Recreio, Cultura e Lazer; disputavam apenas jogos de rua, sempre com acesa e bem viva rivalidade, muito brio e vontade, é certo, mas menos aptidão; vulgarmente apodados de “solteiros e casados”. Bairro contra bairro, aldeia contra aldeia, vila contra vila, em campos pelados, quantas vezes com charcos de água ou lamaçais se estiava; os equipamentos eram obsoletos, rudimentares. Botas desajustadas e com travessas, quando havia disponibilidade, senão, como recurso, era   utilizada vestimenta própria e o calçado costumeiro - botas com brochas de aço, galochas, tamancos, ou sapatos domingueiros.

Raramente treinavam, já que o tempo e energias eram gastos em trabalhos na lavoura, pedreiras, em fábricas, minas, oficinas, escritórios, etc., donde quaisquer estatísticas de resultados e desempenho desse tempo só abusivamente - e pouca-vergonha - podem ser comparadas com as que hoje são conseguidas. Até o maior, o glorioso, com um ataque mais modesto – dizia-se -, sem igual tuba, mas com prestimoso cornetim, alguns pífaros e flautas, muito amor, dedicação e entrega, marcou, no mesmo ano, noventa e nove; o cabotino invejoso sofreu 40, o glorioso 47.  Por isto se pode avaliar o que eram as estruturas para apoio e desenvolvimento, as táticas, estratégias e a qualidade dos participantes.

Portugal só começou, enfim, a ganhar e a ser conhecido e reconhecido quando «bateu» a Inglaterra por 3/1, mas já com José Águas que marcou os três. E os clubes portugueses só conseguiram algum relevo e evidência depois do Benfica ter ganho a taça latina. É aqui, pois, indesmentivelmente, que se inicia a marcha para a grande revolução e transformação do futebol português. É aqui que se inicia, reitero, pois que o conceito e a consolidação ainda iriam demorar alguns anos…

 Investigue-se.

Depressa se chegará à conclusão de que isto de violas dos valados é o maior embuste do futebol lusitano. O riso complacente nacional e internacional dos entendidos.  Só chegou a este estado porque quem o inventou e difundiu foi o próprio treinador ou diretor técnico que era o fundador e dono do maior jornal desportivo de então, e que, recorrendo a bajulice para impressionar e contentar os pupilos e os seu sequazes, ali, que sendo propriedade sua ninguém o proibia, repetiu a lisonja em parangonas, para bem se interiorizar. 

Olha se tivessem «aquele» (o “pipi”) que marcou quinze golos só em finais da Taça de Portugal… Foi obra!

 Obra gloriosa!…

 Na verdade, o melhor ataque que Portugal já teve – a temível “máquina infernal de fazer golos” – era composto por José Augusto, Santana, Águas, Coluna e Cavém, que atingiu 103 golos num campeonato, e o Benfica, com este ataque, foi campeão europeu um ano antes da chegada do Eusébio. Estes sim, estes merecem ficar gravados para a posteridade da História do futebol português. Com encaixes de verbas significativas, exibiram-se por convite em todos os continentes.  Conquistaram o terceiro lugar no campeonato do mundo (1966), tendo sido o ataque mais goleador, agora já sem Águas, Santana e Cavém, mas com Torres, Eusébio e Simões em sua substituição. São os chamados magriços. 

Uma curiosidade que, lamentavelmente, não é salientada onde e por quem o deveria ser, sobretudo pelos interessados: o Benfica foi bicampeão europeu só com jogadores nacionais! Pasme-se…, mas isto é uma verdade factual, incontornável e histórica. Seria orgulho para qualquer país porque é feito único! Nem o Real Madrid com o seu grande e inigualável palmarés, mas conseguido com a ajuda de Di Stefano, uma das maiores estrelas argentinas de sempre. 

E.T.  – Se for detetada alguma imprecisão, que será difícil porque o que ficou dito foi vivido, basta dizer que, se reconhecida, será de imediato corrigida.

Constantino Braz Figueiredo