terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Oh, o Passadiço ... que levou sumiço ...

... Mas a sua terra, Cebola, existe e persiste!






             "O lenço da nuvem", visto na China em agosto de 2022










 

Imagens de três versões do belo, poético e inofensivo arco-íris, buscadas e trazidas do Google. Foram captadas por prodigiosa máquina fotográfica, o único instrumento capaz de parar o tempo e roubar-lhe instantâneos para memória e gáudio da posteridade. Três arcos oferecidos à humanidade pela pródiga natureza. São apenas um produto resultante da refração da luz solar nas gotículas da chuva e em  tudo idênticos aos primeiros que os primeiros homens observaram, mas que por nada saberem sobre fenomenologia, para eles olharam com respeito, quantas vezes com espanto e temor, e com ingenuidade os compararam com a amplitude soberana do Universo, que ciclicamente os amedrontava com enigmáticos eclipses solares e lunares e os fustigava com terríveis tempestades - céus plúmbeos e carrancudos carregados de eletricidade estática, que causavam, pelo choque e fricção de ventos a temperaturas diferentes, relâmpagos ou centelhas luminosas com barulho aterrador, (mais tarde classificados de trovões, raios ou coriscos), deslocando-se entre as nuvens a velocidade meteórica e soltando faíscas que por vezes atingiam o solo se atraídas por qualquer íman natural. E ainda lhes impunha doloridos sofrimentos e preocupações pelos efeitos devastadores de tormentosos cataclismos, abalos telúricos e horrendos vulcões.

Mal sabiam esses homens, então deslumbrados e assombrados, que para tudo havia explicação plausivelmente científica, bem simples aliás; e pior, muito pior, desconheciam que, mau grado o seu, ao mesmo tempo emergiam, a seu lado, sagazes personalidades que se iam aproveitando e servindo desse respeito e ignorância sobre aqueles coincidentes frutos do acaso natural. Manhosos, demagogos e calculistas, logo transformavam tudo o que a eles causava reações temerosas em sofismáveis ambiguidades, no entanto de sentido único, já que eram a melhor semente e adubo para enraizar e fertilizar patranhas e crenças pretensamente sobrenaturais, que nunca tinham visto, conquanto não houvesse, jamais houve ou haverá testemunhos credíveis da sua existência, e cuja finalidade única era impressioná-los para os dominarem física e espiritualmente e, por reflexo, melhor se locupletarem com as mais-valias produzidas pelo seu esforço. Velhas histórias que não irei aqui escalpelizar – sosseguem os obscurecidos e intolerantes crédulos –, mas tão-somente asseverar que assim principiaram e se cavaram as assimetrias económicas e sociais, os desentendimentos, as imposições, as desumanas punições políticas e religiosas sem culpa formada, as guerras, a exploração, a ignomínia, a escravatura, a humilhação, o domínio do mal, o poder da força – a selvática lei.

Ainda de incipiente capacidade intelectual e óbvia tacanhez primitiva, muito lentamente, o homem foi observando e analisando e dispondo do que a natureza lhe oferecia, e, engenhosamente, dos arcos – única motivação deste trabalho – fez modelo para os seus artesanatos, que foi aperfeiçoando com a morosidade de milhénios, até se abalançar a outras construções comemorativas, mais grandiosas e de outro significado.

Primeiro foram os impérios orientais que dispondo de grande poder económico e religioso, mercê das riquezas concentradas no Delta do Nilo, no Egito, e nas férteis margens da extensa bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates, desde as montanhas da Anatólia, passando pela Mesopotâmia, hoje Síria, Irão e Iraque até ao Golfo Pérsico (com a Palestina entalada entre estes frutuosas povos), mais facilmente se dotaram dos melhores sábios do culto, de engenheiros e arquitetos para erigirem monumentais obras de homenagem a divindades consoante as suas religiões e outras civis ou profanas, unicamente para ostentação de riqueza, de poderio, de vanglória, ou para preservar os seus finados corpos,  a fim de que  as gerações vindouras pudessem celebrizar os seus ilustres nomes, as suas façanhas, os seus domínios e civilizações até à imortalidade.

Depois, já na vigência de impérios ocidentais mais recentes, Grécia e Roma, sobretudo Roma já que os monumentos na Grécia privilegiavam a arte, as ciências, as letras, o progresso e a economia, sem esquecer as construções em louvor das suas proeminentes figuras mitológicas, que eram, de certo modo, a concentração, o exemplo de vida e o motor de toda a cultura e pensamento helénico; por seu turno, Roma, grosso modo, assentava o seu poderio militar e económico nas conquistas expansionistas, e, depois de cada campanha vitoriosa, os generais, à frente dos gloriosos exércitos, regressavam triunfalmente, em apoteose, a fim de colherem os louros políticos, as mercês e títulos honoríficos que lhes eram devidos ou por eles exigidos, até atingirem o cume do poder, nomeando-se eles próprios césares e augustos – as divindades imperiais. Assim é que Septimo Severo, Galeano, Constantino, Marco Aurélio, Tito, etc., promoveram a construção dos magnificentes arcos que ainda hoje existem em Roma, arte que terão herdado dos etruscos ou toscanos que a haviam assimilado dos povos egípcios e assírios, para assinalar e perpetuar os êxitos alcançados pelas armas.

E o mesmo fez Napoleão. Depois de Austerlitz, e aquietados já diretórios, girondinos e jacobinos, o pequeno corso passou então a encarnar a esperança de todos os povos do mundo, designadamente das massas das nações europeias subjugadas pelas monarquias e oligarquias hereditárias, apodrecidas por séculos de domínio e apenas escoradas em pesados tributos que alimentavam faustosos luxos, escandalosos regabofes e mordomias imperiais e eclesiasticais, e no beneplácito bordão da sanguessuga – parceira viscosa que manuseava o ferrete a seu bel-prazer –, e mandou construir, ele Napoleão, além de outros monumentos, os triunfais arcos de Paris e do Carroussel, em Versalhes.

Seguiram-lhe o exemplo outras cidades do mundo moderno, incluindo Lisboa com o seu majestoso arco da rua augusta; e Cebola, sempre atenta a estes eventos e ao que de melhor se passava, se produzia e mostrava ao mundo, vai daí, erigiu também o seu – o passadiço. Arco que, além de grande utilidade para guardar forragens, ferramentas e produtos da lavoura, era duplamente triunfal: para pessoas e animais quando cabiam ao mesmo tempo … senão era à vez, com prioridade para os que se apresentavam primeiro, mas com especial deferência para carros de tração animal! Ainda hoje sinto uma terna saudade quando me lembro daquela imponência e beleza arquitetónica, e dentro de mim, sincero, triste e emocionado, plange o mesmo pensamento – “oh, o passadiço … que levou sumiço”!

As imagens seguintes, foram também “emprestadas” pelo Google, exceto uma ou ou duas do Xico.


Este, é fruto da erosão e da força dos elementos. Não sei onde fica, mas fica bem

 
Capadócia


Capadócia






Capadócia

Arcos (ruínas) de Palmira, "a noiva do deserto",  Síria


Ramesscum, Egipto


Bolton, Yorkshire, I.


Arco de Constantino, Roma




Arco de Marco Aurélio, Roma




  Passadiço, Cebola



Arco de Orange, França

Arco de Galiano, Roma


Arco da Porta Nova, Braga

Arco de Septimo Severo, Roma



Arco de Barcelona


Arco do Triunfo, Paris

Arco de Pyong Yang, Coreia do Norte



Arco de Bará, Tarragona


Arco do Carroussel, Verssalhes



Arco da Rua Augusta, Lisboa


Portas de Brandenburg, Berlin


Arco de Madrid (Moncloa)




Arco da Paz, Fronteira CAN./USA



Arco de Moscovo

Arco da Capela, Cebola


Umas palavras ainda para este monumento que foi inaugurado em Cebola, com a minha indispensável presença. Tinha então oito anos, e lembro-me perfeitamente das figuras, animais, cordas e importantes personalidades de Cebola que mais se destacaram para levar a estátua lá para cima. Acho bem que a memória não me atraiçoe, mas não, porque sou um filho de Cebola e um genuíno filho de Cebola mantém a memória bem viva até que definitivamente vá pernoitar no "jardim das tabuletas"! Não havendo qualquer máquina elétrica ou mecânica, recorreu-se ao sistema faraónico - cordas, roldanas, força de braços humanos e de bois forçados a aguilhão creio que pelo ti Zé Branco, sendo toda a operação superiormente comandada por um indivíduo que morava na Panasqueira, António Francisco, um crânio das Minas em serralharia, mecânica e eletricidade. Ainda me lembro de todo o povo a assistir e cuja ansiedade era traída por nervosos comentários e olhos que simbolicamente faziam mais força que todos os operacionais; ainda me lembro do reparo que in loco o ti Zé Pereira (“Zé Padre”), tido como o mentor desta ideia, fez ao escultor também presente de que não era simétrica a pose das mãos, e de o técnico ter respondido que apenas procurou dar-lhe um aspeto de naturalidade; ainda me lembro de ver o sr. Padre Ricardo, quase na reforma, a bater com o bastão no chão de cada vez que a estátua subia um palmo e, já com o serviço concluído, olhar para os céus e dizer: "Já posso morrer, Senhor"...



Constantino Braz Figueiredo

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