Há alguns anos, quando ainda
escrevia e postava textos quer de índole pessoal quer relativos a Cebola no bem conhecido e conceituado “Sítio” Cebola-Net, conterrâneos – “Fina da Mina”, “CBP”, Vítor,
etc. – lembravam aí coisas que em tempos idos tiveram vida e marcaram as nossas
gentes, entre as quais o antigo tronco de Cebola e seu dono e ferrador, de quem
diziam ter grande aptidão para “calçar os bois fortes” da aldeia. Tomei então a
liberdade de produzir, jocosamente como gosto, em devido tempo e lugar, o
arrazoado que a seguir transcrevo, por me parecer que terá algo a ver com os atuais
jogos olímpicos que decorrem em
Inglaterra, sobretudo com as provas de hipismo (o grande desporto de massas que apaixona
multidões!) das quais, há pouco, numa
esplanada se transmitiam imagens televisivas, sintomática e paradoxalmente sem entusiasmo ou interesse de
quem estava ou por ali passava, e que eu
apenas mirei de soslaio com sarcasmo condescendente:
“Se me é permitido meter a ferradura em tronco alheio, direi que o
tronco do ti Alfredo Ferreiro, ou Ferrador, era em terreno coberto – pista
coberta (não gostam do trocadilho?). O atletismo sempre foi um dos meus desportos
favoritos, por influência de sempre ter tido um fraco (ou um forte?) pelos
desportos. O Ti Alfredo, bonacheirão e solteirão assumido, casou com o seu
tronco e com a boa vinhaça das irmãs Silvina e Patrocina e era, acima de tudo,
um profissional internacionalmente reconhecido; é certo que tratava e cuidava
dos bois mais fortes e capazes, mas nunca recusou tratar os bois fracos, apesar
de tudo. Ensinava a arte para que os vindouros a pudessem usufruir.
Não chegou
ao Prémio Nobel nem às Olimpíadas de inverno,
sequer de verão,
e também, diretamente,
às pistas do hipismo de competição inglesas, originárias das famosas apostas -
estas tinham, e têm, outros ferradores mais bem pagos, mas está lá, acreditem,
o espírito e o saber do grande calçador de cavalos, como de toda a burrada e
bois fortes de Cebola; e, como ele, têm troncos em área coberta e são todos
grandes artistas, embora aprendizes do Ti Alfredo "Chanão", o FERRADOR. Calçam bem, a preceito, com rigor - ferraduras douradas, prateadas,
bronzeadas ou arco-íris, sempre com a dignidade do mestre.
E não me penaliza
crer que os seus melhores discípulos é que ganharão as corridas. Tal como os
mecânicos de automóveis. Os melhores, leve o tempo que levar, ganharão sempre.
É a lei da vida, a lei da Natureza! Ou não fosse a Ferrari, de ancestrais
ferreiros, ferradores e ferragistas, uma das mais conhecidas e conceituadas
marcas de carros que vagueiam por estradas e autoestradas e, sobretudo, campeiam
nas corridas de automóveis, tendo por
símbolo um exemplar cavalo, calçado a condizer…
Constantino, Um Talo de cebola"